Informações
Descrição
Trata-se de expressão teatral da cultura brasileira e muito peculiar do nordeste brasileiro, rica da genialidade de seus criadores e na empatia que estabelece com seu público. De origem pouco documentada, o teatro de bonecos popular chegou ao Brasil no período colonial, assumindo, inicialmente, função religiosa e de evangelização e, posterior ou paralelamente, o sentido profano, popular, contestador e satírico que ainda hoje manifesta. Já em solo brasileiro, o teatro popular de bonecos incorporou elementos e tradições dos diferentes grupos étnicos que compõem a sociedade, resultando em uma manifestação de múltiplas influências. De todas as formas que esse teatro tomou, nas várias regiões do país, apenas o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, com suas variantes, sobreviveu. Genericamente conhecido como “Mamulengo”, é o teatro popular de bonecos que comparece nos diversos estados da região, com diferentes denominações: Cassimiro Coco no Ceará, João Redondo no Rio Grande do Norte, Babau na Paraíba, Mamulengo em Pernambuco, entre outras designações que pode apresentar local ou regionalmente. Ao entender o Mamulengo, o Babau, o João Redondo e o Cassimiro Coco como um único bem cultural, ou seja, o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, afirma-se que, acima de suas especificidades estão as evidentes características que os unem, tanto no que se refere aos elementos de linguagem que os estruturam como forma de expressão, quanto aos sentidos que produzem pelos e em seus artistas e em seus públicos. Em termos gerais, a expressão cênica conhecida como Teatro de Bonecos Popular do Nordeste consiste em representações dramáticas encenadas com bonecos. Por detrás de um tecido estendido ou de uma barraca, também denominada tolda ou empanada, um ou mais manipuladores atuam, escondidos do público, dando vida aos bonecos que se movimentam, falam e interagem com a plateia. Esta se posiciona em pé ou em cadeiras removíveis, em frente à empanada, e participa ativamente da encenação. Seus praticantes definem o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste como “brinquedo”, e a ação de atuar como “brincar”. O bonequeiro é um artista, um ator, um brincante, um comediante e improvisador, que interpreta a realidade de modo a provocar o riso em sua plateia, além de ser também um cronista do seu tempo. Esta forma teatral objetiva o lazer, o lúdico, ao mesmo tempo em que representa uma válvula de escape ao cotidiano opressivo e limitador das camadas populares da sociedade. Ocorre originalmente em pequenas comunidades onde bonequeiros e público comungam uma mesma cosmovisão. É realizado e mantido segundo preceitos de uma tradição, e suas apresentações, marcadas pela itinerância, ocorrem com maior frequência em festas tradicionais e datas comemorativas. Esta arte teatral e os saberes a ela relacionados se mantêm vivos e presentes em vários estados do Nordeste brasileiro, seja no meio rural e em pequenas cidades do interior, seja nas grandes metrópoles e capitais. A prática se estendeu por todas as regiões do país, levada por migrantes em busca de melhores condições de vida. Vem sendo recriada e reinterpretada nos locais onde se fixou, e assumindo configurações diferenciadas ao longo do tempo. Nesses novos contextos, especialmente na região Sudeste e Centro-Sul do Brasil, inclusive no Distrito Federal, “Mamulengo” é o termo usado para designar o teatro de bonecos de cunho popular com influências do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste. Esta tradição teatral, além de manifestação artística que envolve conhecimento, técnica e a criatividade de seus praticantes, é primordialmente uma expressão cultural de caráter coletivo, fortemente associada a práticas e ao universo cultural de grupos sociais temporal e territorialmente definidos. Assim, entender o teatro de bonecos popular como manifestação vivencial compartilhada, e como expressão artística individual, simultaneamente, é imprescindível para a apreensão de sua constituição, dinâmica e de toda a sua complexidade. À genialidade de um mestre brincante, por sua vez, se destaca pela excelência de suas performances, na empatia e interação que estabelece com seu público, sua capacidade de improviso e de fazer rir, na criatividade e capacidade de adaptação a contextos diversificados, em sua expertise na confecção dos elementos que compõem esse teatro e em seu conhecimento da tradição — aqui entendida como os repertórios, os personagens, suas características físicas e de personalidade, as histórias que os identificam, as loas, cantigas e todo um conjunto de saberes transmitidos oralmente, no âmbito familiar ou de uma linhagem de mestres reconhecido pela comunidade à qual o brincante pertence. Dentre as características e elementos mais gerais definidores da prática do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, seja como forma de expressão ou como linguagem cênica, comuns às suas diferentes versões regionais ou variantes, relacionamos: é realizado no chão, geralmente ao ar livre, prescindindo de um espaço especial para acontecer; há a participação ativa dos espectadores e intensa interação destes com os bonecos; apresenta dramaturgia não linear, embora a estrutura dramática possa ser composta também por um enredo único; na forma episódica, a apresentação é composta por várias cenas ou passagens, que prescindem de conexão entre si e de um tempo determinado para acontecer; a utilização de bonecos que seguem referências universais enquanto tipos humanos; não realismo da apresentação, baseada no absurdo, na comicidade e no improviso; alternância na utilização da dança e da música dentro de uma representação estilizada, que se coloca como elemento fundamental, tanto na estruturação das passagens, quanto na composição lúdica do espetáculo; seus atores não são profissionais, no sentido estrito do termo; a transmissão dos saberes é realizada por tradição oral, repassada de mestre para discípulo, de pai para filho, de geração para geração; evidencia-se a circunscrição aos parâmetros e códigos comuns; o evento teatral fala de um universo sociocultural compartilhado por bonequeiro e público. O valor patrimonial do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, realizado tradicionalmente por artistas populares, reside tanto em seus aspectos estéticos, inseridos no campo da linguagem teatral, da música, das artes visuais, quanto nos sentidos que produz nas e pelas comunidades que a compartilham, sejam elas pertencentes às pequenas localidades interioranas dos estados nordestinos ou aos grandes centros urbanos, comunicando temporalidades, espacialidades, identidades e elementos da diversidade cultural brasileira. Esta descrição corresponde à síntese do conteúdo do processo administrativo nº 01450.004803/2004-30 e Anexos, no qual se encontra reunido amplo conhecimento sobre esta Forma de Expressão, contido em documentos textuais, bibliográficos, iconográficos e audiovisuais. O presente Registro está de acordo com a decisão proferida na 78º reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada no dia 04 de março de 2015”.
Data de Registro
março 4, 2015
Abrangência do registro
regional
Território já identificado
AL, RN, PE, PB, CE, DF, RJ
Localização
Alagoas - AL | Ceará - CE | Distrito Federal - DF | Paraíba - PB | Pernambuco - PE | Rio de Janeiro - RJ | Rio Grande do Norte - RN
Livro de Registro
Instituições parceiras
UnB
Documentos
Diretrizes para Instrução Técnica de registro de bem cultural - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Ata de Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (Registro) - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Aviso no Diário Oficial da União - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Certidão de registro de bem cultural - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Titulação de registro de bem cultural - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Parecer Técnico de Registro - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Titulação de registro de bem cultural - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Parecer do Conselho Consultivo - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Parecer Técnico de Registro - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste | Estatuto Social - Teatro de Bonecos Popular do Nordeste